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A massa sovada da Ponta Garça - Mostra gastronómica da Vila

 

Massa da Ponta Garça

A Massa Sovada, a do tijolo, o pão de Milho e Trigo caseiros  são especialidades de Isabel Cabral da Ponta Garça. Sovar a massa é um passo essencial para se fazer Pão ou a "MASSA SOVADA", em particular na Ponta Garça, onde esta iguaria tem tradição de "melhor" entre as massas sovadas da ilha".

Como coordenador da 1ª Feira de Artesanato e Mostra Gastronómica da Vila", de 12,13 e 14 de Agosto, a convite da Câmara Municipal de Vila Franca, coube-me reconhecer e fazer o levantamento dos artesãos e artesanato disponível naquele concelho, assim como dos seus restaurantes, sua gastronomia típica favorita, e com a atenção especial para a sua doçaria: queijadas da vila, da avó e claro da famosa massa sovada da Ponta Garça.

Sra. Isabel Cabral e filha Eunice - duas gerações no mesmo projecto.

Queria conhecer os contornos da sua preparação, fabrico e importância relevante para os seus proprietários, para que venham a participar com os seus produtos na Mostra Gastronómica, patrocinada pela ASDERP, uma instituição que promove o desenvolvimento rural na Ilha de S. Miguel. Por outro lado, aproveitando a presença nos Açores de Glória Cabral, professora de Artes da Culinária, da Universidade de Fall River (BCC), calendarizamos uma visita juntos à casa de Isabel Cabral, fabricante de "Massa Sovada", na Ponta Garça.

Eram 6H45 da manhã quando o motorista da Câmara de Vila Franca nos apanhou em Água de Pau e 7H30 estávamos a ver a senhora Isabel Cabral, a levar ao forno os primeiros bolos de massa. Então vimos entrar no forno os tradicionais bolos de massa sovada, nas formas altas. Colocado o bolo, na estremidade da pá do forno, a senhora Isabel, levanta a pá e leva-a até ao extremo do forno, depositando a forma com o bolo. A função repete-se.

A Massa de Tijolo

Chamou-nos no entanto a atenção quando vimos serem colocadas, na pá do forno, algumas folhas de "conteira" ou de "coquilo" como se diz em Água de Pau. Serviram as folhas de conteira, de base para levar ao forno o "bolo de massa de tijolo" como nos foi dito. É mais largo e baixo este bolo, parecendo-se com o tradicional pão caseiro, que ali também presenciaríamos o seu fabrico. O bolo de massa do "tijolo" tem um gosto diferente que as folhas lhe conferem, o que o torna preferencial para muita gente.

Isabel Cabral contava na altura da nossa visita com a colaboração de Maria dos Anjos Custódio Sentinela, que tal como a patroa, faz tudo quanto é preciso saber para se fabricar massa ou pão de trigo ou milho. Estávamos na presença de duas profissionais do melhor que a Ponta Garça tem. Aliás não podemos esquecer que Isabel é filha de Natália, de quem herdou a fama e o saber de como se faz boa massa.

Assistimos a diferentes etapas do fabrico de todos os produtos que Isabel Cabral fabrica e que podem ser visionados através das fotos que tiramos. Segundo nos apercebemos, ao sovar, estica-se a massa que forma o glúten, o material que dá ao pão ou à massa sovada sua textura. Ainda ajuda ao distribuir os gases que são produzidos pelo fermento. Combinam-se os ingredientes para a sua massa de acordo com a receita, para pão ou massa.

Massa de Tijolo da Ponta Garça

Vimos ambos os processos. Pode ser simplesmente água, fermento e farinha para um pão básico, ou uma lista de produtos, que tem que se ter experiência e conhecimentos para os seguir. Medir com peso e medida os ingredientes e misturá-los como a receita diz. Isabel e Maria dos Anjos têm isso tudo na cabeça, e as diferentes etapas, desde a preparação da massa no alguidar (aqui de plástico, visto o alguidar-relíquia de barro ter sido guardado, disse-nos a senhora Isabel) até entrar para o forno de lenha. "Se a massa estiver muito húmida ou grudenta, jogue-se mais farinha por cima", explicaram-nos.

"Junte-se a massa em um montinho ou pilha e aperte-se, ela junta-se. Pressiona-se a base da palma firmemente contra a massa, empurrando para frente ligeiramente. Dobra-se as bordas da massa para cima, e apertamos de novo no meio da massa. Rode-se a massa um pouco". Maria dos Anjos repetiu este aperta-dobra-vira, enquanto estava sovando. A Senhora Isabel beliscou a massa do pão, para ver se ela já estava boa. Massa de pão vai ficar mais firme ao ser sovada, assim como é mais difícil torcer uma mola já torcida.

Massa sovada da Ponta Garça

Beliscou a massa entre os dedos, só vai estar pronta se parecer um lóbulo de orelha. Por vezes se tinha dúvidas, sovava mais um pouco. De todos os cinco sentidos, o paladar provavelmente é o mais íntimo de todos. Todos os outros sentidos podem ser estimulados contra nossa vontade, mas para oferecer algo a nosso paladar, é preciso acção voluntária por parte da pessoa. Nada mais importante então, ao tratar de algo tão íntimo, do que tomar o maior cuidado e carinho ao fazer algo destinado a tão nobre função.

Estas duas senhoras eram dignas signatárias do que atrás se disse. Tratando-se de uma micro-empresa familiar de sucesso, Isabel Cabral quer contar ainda com Eunice, sua filha mais nova, prestes a terminar o seu curso de Acção Social na Universidade dos Açores. Falando com ela apercebemo-nos que a mesma não põe de parte a actividade que lhe proporcionou os estudos e a segurança económica da familia. No entanto quer ter formação acadêmica e nada lhe proíbe de ter ambas as actividades no futuro. Esperemos que sim, pois a mãe, Isabel é uma profissional fascinante e possuidora de um poder incrível de responsabilidade e dirige de forma brilhante este negócio da "famosa Massa Sovada" da Ponta Garça e com imenso sucesso.

A mesma reconheceu a importância da sua massa participar na "1ª Feira de Artesanato e Mostra Gastronómica da Vila", mas como "coze massa" todos os dias, com excessão do domingo, será então a filha Eunice Cabral a seduzir os visitantes na feira, nos dias 12, 13 e 14 de Agosto, com a massa famosa da sua mãe, que um dia será sua. Para a professora Glória Cabral, que vem estudando nos Açores como se confeccionam muitos alimentos, na cultura tradicional local, para depois os comparar com aqueles que os açorianos radicados na Nova Inglaterra confeccionam também, ficou mais uma experiência sensacional junto da comunidade açoriana, que desenvolve actividades familiares fascinantes, mesmo sem estarem muitas vezes ligados por laços de sangue, como é este caso, frisou.

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